domingo, 18 de dezembro de 2011

1,5 milhão de pessoas no Ceará sobrevivem em extrema pobreza



Assim que a comida fica pronta, a dona de casa Teresa Cândida, 55, tira as panelas quentes do fogão e coloca imediatamente na geladeira. “Se deixar em cima do fogão, os ratos sobem e viram as panelas”, conta, enquanto um dos bichos escala a geladeira, no vão construído com placas de madeira, embaixo do viaduto do Antônio Bezerra, em Fortaleza. A energia elétrica é gambiarra. A água é comprada por R$ 0,25 o balde, do outro lado da avenida Mister Hull.

“Comida de pobre é arroz e feijão. Nem sempre tem ‘mistura”.

Ela mora sozinha com o marido e, com o dinheiro que recebem dos bicos, somam uma renda mensal de R$ 120,00. Eles se enquadram no perfil de extrema pobreza, famílias cuja renda per capita não chega a R$ 70,00 por mês, o que representa pouco mais de R$ 2,00 por dia, segundo parâmetro estabelecido pelo Governo Federal. “Você pensa que isso não é miséria? Meu sonho era que o governo tirasse a gente daqui debaixo do viaduto, de perto dos ratos”, pontua Dona Teresa.

Só no Ceará, 1.502.924 pessoas vivem em situação de extrema pobreza, segundo Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que um em cada cinco cearenses é miserável. Hoje, o governo discute a necessidade de se construir políticas públicas específicas para estas pessoas. Além de reverter a dificuldade financeira, desafios paralelos despontam, já que a sensação de pobreza se torna ainda maior, quando essas famílias não têm acesso a serviços e necessidades básicas rotineiramente.

A realidade da miséria sob o viaduto faz parte do cotidiano de dona Teresa há pelo menos três Natais e ela nem tem perspectiva de quando terá condições de sair desta situação. No outro lado da cidade, no Cambeba, onde funciona o Instituto de Pesquisa e Estratégia do Estado do Ceará (Ipece), a vida de dona Teresa faz parte de diagnósticos, estatísticas, debates e propostas de solução.

Duas realidades que se diferenciam por um aspecto fundamental: o tempo corre em velocidades diferentes. Enquanto dona Teresa tem necessidade de solução emergencial, para que não precise mais conviver com os ratos, técnicos do órgão ainda não conseguem precisar quando a extrema pobreza será erradicada no Ceará.

Em janeiro próximo, o Governo Cid Gomes (PSB) completa um ano da sua segunda gestão. Em seu discurso de posse, frisou que “continuar crescendo implica reduzir de forma drástica o contingente de cearenses que ainda vive em condições de extrema pobreza”. Hoje, O POVO cobra o discurso que prometia canalizar esforços na direção desses homens e mulheres, objetivando elevar seu nível de renda e ensejar-lhes oportunidades que possibilitem a plena realização do potencial humano.

Conforme Cid, investir no social, é a mais sábia política desenvolvimentista. “Vai-se quebrar o paradigma caracterizado por um modelo de desenvolvimento que sempre adiou a partilha de seus benefícios com a massa da população”, pregava. Um ano depois, a questão que fica é como o Governo vem cumprindo esta agenda e de que forma vem fiscalizando e avaliando os resultados de suas políticas.

Lucinthya Gomes
Fonte:Jornal O Povo

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