domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fortaleza: Centro, mais de dez incêndios em três anos

Clique para Ampliar
Na semana passada, loja no Centro foi destruída pelo fogo, na Rua 24 de Maio
FOTO: KIKO SILVA
Clique para Ampliar
O Centro da Capital, com centenas de lojas, é o segundo colocado em relação à demanda de carga elétrica, perdendo apenas para a Aldeota
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Especialistas apontam áreas com maior fluxo de ´camelôs´ como sendo as mais vulneráveis para os acidentes
Uma bomba-relógio prestes a explodir. Assim parece estar, atualmente, a região central de Fortaleza. Foram, desde o começo do ano, pelo menos quatro incêndios de média proporção que atingiram lojas e prédios, colocaram a população em risco, mexendo com toda a rotina de um dos locais mais agitados da Cidade. Região tão cheia de prédios antigos, de galerias, mercadorias inflamáveis e intenso vai-e-vem de clientes. Uma única faísca de fogo surge e tudo pode ir para o ar. A pergunta surge: como garantir um Centro seguro?

O problema, no entanto, não é tão recente assim. Em mapeamento a partir de registros mais recentes, o Diário do Nordeste contabilizou, de 2009 até hoje, pelo menos dez incêndios de grandes proporções na região. Casos como os dois acidentes no Instituto Doutor José Frota (IJF), nos dias 6 de abril de 2010 e 2 de maio de 2011, provam a vulnerabilidade do bairro. O conhecido prédio do "Poupa-ganha", na Rua Imperador, teve parte da sua estrutura destruída, em agosto de 2010, assim como o Teatro Carlos Câmara, em outubro de 2009.

Entre os problemas listados por especialistas, estão a total falta de manutenção, a antiguidade dos imóveis, o mau isolamento das muitas conexões elétricas, as emendas de fios expostos, fiação com má qualidade, ausência de extintores, rotas de fuga e presença ostensiva de materiais inflamáveis, como plásticos e isopores. Entre tantos outros motivos, felizmente, alguns já reconhecidos pelo Poder Público, mas tão difícil de ser resolvido. Para a presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Ceará (Senge-CE), Thereza Neumann, a entidade integrante do Fórum Viva o Centro lamenta os riscos e afirma que a situação atual é oriunda de décadas de descaso e falta de fiscalização.

O agravante é que, segundo ela, diferentemente da estrutura de concreto - que é mais visível, as fiações, possíveis causadoras de incêndios, são mais escondidas, conseguem sair mais do foco de análise. "Muitos prédios e lojas não passam por reformas, por exemplo, só por adaptações. As lojas só têm aparência de novas, não suportam a quantidade de energia que é demandada. Tem muito fio antigo ainda. Autoridades têm que prestar bem mais atenção", critica Thereza.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-CE), Victor César da Frota Pinto, "engrossa" o couro das reclamações e solta um alerta sobre a região. "Do jeito que o Centro está, os frequentadores estão correndo riscos diários. Os imóveis antigos, obras irregulares e falta de rigor nas construções torna o ambiente hostil e perigoso", comenta.

Mais do que nunca, segundo o presidente, torna-se urgente a votação, na Câmara Municipal de Fortaleza de um Projeto de Lei que, se aprovado, pode tornar obrigatória a manutenção preventiva das edificações na Capital. "Estamos pressionando para a aprovação ainda neste mês de março", relata Victor Frota.

O texto da lei de Prevenção Predial está sendo elaborado, segundo o presidente do Crea-CE, em parceria também com outros órgãos, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL) e com a Prefeitura, que seria a responsável pela emissão do Certificado de Inspeção Predial.

Entretanto, a fiação não é a única vilã no Centro. Problemas com a parte estrutural de prédios antigos, de fachadas e marquises também preocupam. Prova disso, são as constantes denúncias recebidas pela Defesa Civil. Em toda a Cidade, foram recebidas mais de 50 ocorrências de desabamento em fevereiro.

No Carnaval, por exemplo, foram 34 casos, sendo 19 só riscos de incêndios, 12 de desabamentos, entre tantos. "Muitos dos casos que recebemos são no Centro. Fazemos vistorias preventivas, mas sempre há riscos", informa Alísio Santiago, o coordenador da Defesa Civil Municipal.

Uso de energia só aumenta
Luminárias, computadores, ar-condicionados, caixas de som e tantas outras mil aparelhagens ligadas ao mesmo tempo em um só lugar. Imagina o tamanho do risco? No Centro, a demanda elétrica só tem aumentando a cada ano, afirma o gerente de distribuição de Fortaleza da Companhia Energética do Ceará (Coelce), Jairo Kennedy. Atualmente, o bairro é o segundo colocado em relação à demanda de carga, perdendo apenas para Aldeota.

Além das centenas de lojas e magazines, dos postes e fios, dos prédios antigos, da intensa movimentação, ainda há, no cotidiano da região, uma enxurrada de "camelôs" que tornam o Centro um local de muitos riscos.

"A região cresceu muito. E, por isso, sabemos da grande vulnerabilidade. Daí, darmos uma atenção especial ao local, mais cuidado. O problema se agrava ainda mais com as atuais chuvas. Os cabos antigos, a isolação ruim e os vazamentos devem ser todos extintos", alerta Kennedy.

Prevenção
Em meio a tantos males, a prevenção parece ser fundamental. Para tal, a titular da Secretaria Regional do Centro (Sercefor), Luíza Perdigão, promete aumento da equipe técnica. "Com a realização do último concurso público e chegada dos novos fiscais, a Prefeitura tem realizado mais fiscalização ostensiva", conta.

Ainda segundo ela, a Sercefor estaria realizando um mutirão junto aos estabelecimentos comerciais para apresentação dos alvarás de funcionamento.

"É importante porque, entre a documentação exigida para sua emissão, consta o projeto contra incêndio aprovado pelo Corpo de Bombeiros. Daí, as empresas procurarem se regularizar para continuarem funcionando", diz.

Sobre os últimos incêndios no Centro, o Corpo de Bombeiros informa ainda que os pontos de maiores riscos hoje são aqueles em que existe grande acúmulo de material inflamável. Por isso, seria tão importante que as edificações obedecessem às Normas provenientes da Lei 13.556.

"A data de construção das edificações é mais antiga do que a data de publicação de muitas Normas Técnicas que dispõem sobre a segurança contra incêndio e pânico. A manutenção elétrica das edificações geralmente não é feita. Assim, a combinação das características faz com que o Centro seja um cenário ideal de incêndios de proporções relevantes", informa a instituição.

Falta de estrutura
50 registros de desabamento em toda a Cidade foram feitos pela Defesa Civil apenas no mês de fevereiro. As denúncias recebidas pelo órgão do Município são constantes

34 ocorrências foram registradas, na Capital, pela Defesa Civil, somente no Carnaval. Entre elas,19 riscos de incêndio e 12 de desabamentos

IVNA GIRÃO
REPÓRTER

0 comentários:

Postar um comentário

Todos os comentários são lidos e moderados previamente
São publicados aqueles que respeitam as regras abaixo:

-Seu comentário precisa ter relação com o assunto da matéria
- Não serão aceitos comentários difamatórios
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros sites ou blogs

Os Comentários dos leitores não refletem as opiniões do do TR.