Na semana passada, loja no Centro foi destruída pelo fogo, na Rua 24 de Maio
FOTO: KIKO SILVA
O
Centro da Capital, com centenas de lojas, é o segundo colocado em
relação à demanda de carga elétrica, perdendo apenas para a Aldeota
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Especialistas apontam áreas com maior fluxo de ´camelôs´ como sendo as mais vulneráveis para os acidentes
Uma
bomba-relógio prestes a explodir. Assim parece estar, atualmente, a
região central de Fortaleza. Foram, desde o começo do ano, pelo menos
quatro incêndios de média proporção que atingiram lojas e prédios,
colocaram a população em risco, mexendo com toda a rotina de um dos
locais mais agitados da Cidade. Região tão cheia de prédios antigos, de
galerias, mercadorias inflamáveis e intenso vai-e-vem de clientes. Uma
única faísca de fogo surge e tudo pode ir para o ar. A pergunta surge:
como garantir um Centro seguro?
O problema, no entanto, não é tão
recente assim. Em mapeamento a partir de registros mais recentes, o
Diário do Nordeste contabilizou, de 2009 até hoje, pelo menos dez
incêndios de grandes proporções na região. Casos como os dois acidentes
no Instituto Doutor José Frota (IJF), nos dias 6 de abril de 2010 e 2 de
maio de 2011, provam a vulnerabilidade do bairro. O conhecido prédio do
"Poupa-ganha", na Rua Imperador, teve parte da sua estrutura destruída,
em agosto de 2010, assim como o Teatro Carlos Câmara, em outubro de
2009.
Entre os problemas listados por especialistas, estão a
total falta de manutenção, a antiguidade dos imóveis, o mau isolamento
das muitas conexões elétricas, as emendas de fios expostos, fiação com
má qualidade, ausência de extintores, rotas de fuga e presença ostensiva
de materiais inflamáveis, como plásticos e isopores. Entre tantos
outros motivos, felizmente, alguns já reconhecidos pelo Poder Público,
mas tão difícil de ser resolvido. Para a presidente do Sindicato dos
Engenheiros no Estado do Ceará (Senge-CE), Thereza Neumann, a entidade
integrante do Fórum Viva o Centro lamenta os riscos e afirma que a
situação atual é oriunda de décadas de descaso e falta de fiscalização.
O
agravante é que, segundo ela, diferentemente da estrutura de concreto -
que é mais visível, as fiações, possíveis causadoras de incêndios, são
mais escondidas, conseguem sair mais do foco de análise. "Muitos prédios
e lojas não passam por reformas, por exemplo, só por adaptações. As
lojas só têm aparência de novas, não suportam a quantidade de energia
que é demandada. Tem muito fio antigo ainda. Autoridades têm que prestar
bem mais atenção", critica Thereza.
O presidente do Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-CE), Victor César da Frota
Pinto, "engrossa" o couro das reclamações e solta um alerta sobre a
região. "Do jeito que o Centro está, os frequentadores estão correndo
riscos diários. Os imóveis antigos, obras irregulares e falta de rigor
nas construções torna o ambiente hostil e perigoso", comenta.
Mais
do que nunca, segundo o presidente, torna-se urgente a votação, na
Câmara Municipal de Fortaleza de um Projeto de Lei que, se aprovado,
pode tornar obrigatória a manutenção preventiva das edificações na
Capital. "Estamos pressionando para a aprovação ainda neste mês de
março", relata Victor Frota.
O texto da lei de Prevenção Predial
está sendo elaborado, segundo o presidente do Crea-CE, em parceria
também com outros órgãos, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza
(CDL) e com a Prefeitura, que seria a responsável pela emissão do
Certificado de Inspeção Predial.
Entretanto, a fiação não é a
única vilã no Centro. Problemas com a parte estrutural de prédios
antigos, de fachadas e marquises também preocupam. Prova disso, são as
constantes denúncias recebidas pela Defesa Civil. Em toda a Cidade,
foram recebidas mais de 50 ocorrências de desabamento em fevereiro.
No
Carnaval, por exemplo, foram 34 casos, sendo 19 só riscos de incêndios,
12 de desabamentos, entre tantos. "Muitos dos casos que recebemos são
no Centro. Fazemos vistorias preventivas, mas sempre há riscos", informa
Alísio Santiago, o coordenador da Defesa Civil Municipal.
Uso de energia só aumenta
Luminárias,
computadores, ar-condicionados, caixas de som e tantas outras mil
aparelhagens ligadas ao mesmo tempo em um só lugar. Imagina o tamanho do
risco? No Centro, a demanda elétrica só tem aumentando a cada ano,
afirma o gerente de distribuição de Fortaleza da Companhia Energética do
Ceará (Coelce), Jairo Kennedy. Atualmente, o bairro é o segundo
colocado em relação à demanda de carga, perdendo apenas para Aldeota.
Além
das centenas de lojas e magazines, dos postes e fios, dos prédios
antigos, da intensa movimentação, ainda há, no cotidiano da região, uma
enxurrada de "camelôs" que tornam o Centro um local de muitos riscos.
"A
região cresceu muito. E, por isso, sabemos da grande vulnerabilidade.
Daí, darmos uma atenção especial ao local, mais cuidado. O problema se
agrava ainda mais com as atuais chuvas. Os cabos antigos, a isolação
ruim e os vazamentos devem ser todos extintos", alerta Kennedy.
Prevenção
Em
meio a tantos males, a prevenção parece ser fundamental. Para tal, a
titular da Secretaria Regional do Centro (Sercefor), Luíza Perdigão,
promete aumento da equipe técnica. "Com a realização do último concurso
público e chegada dos novos fiscais, a Prefeitura tem realizado mais
fiscalização ostensiva", conta.
Ainda segundo ela, a Sercefor
estaria realizando um mutirão junto aos estabelecimentos comerciais para
apresentação dos alvarás de funcionamento.
"É importante porque,
entre a documentação exigida para sua emissão, consta o projeto contra
incêndio aprovado pelo Corpo de Bombeiros. Daí, as empresas procurarem
se regularizar para continuarem funcionando", diz.
Sobre os
últimos incêndios no Centro, o Corpo de Bombeiros informa ainda que os
pontos de maiores riscos hoje são aqueles em que existe grande acúmulo
de material inflamável. Por isso, seria tão importante que as
edificações obedecessem às Normas provenientes da Lei 13.556.
"A
data de construção das edificações é mais antiga do que a data de
publicação de muitas Normas Técnicas que dispõem sobre a segurança
contra incêndio e pânico. A manutenção elétrica das edificações
geralmente não é feita. Assim, a combinação das características faz com
que o Centro seja um cenário ideal de incêndios de proporções
relevantes", informa a instituição.
Falta de estrutura
50
registros de desabamento em toda a Cidade foram feitos pela Defesa
Civil apenas no mês de fevereiro. As denúncias recebidas pelo órgão do
Município são constantes
34 ocorrências foram registradas, na
Capital, pela Defesa Civil, somente no Carnaval. Entre elas,19 riscos de
incêndio e 12 de desabamentos
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
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