O ano de 2012 promete ser pródigo na definição de áreas indígenas, especialmente para três agrupamentos
Aquiraz
O "pessoal da Encantada" está prestes a ter um direito já legitimado em
conquista definitiva. Está se encerrando o prazo de contestação da
delimitação de terras indígenas em Aquiraz, em impasse com grupos
empresariais. Após vários estudos, 20 anos de demandas judiciais e uma
determinação do Ministério da Justiça, pode acontecer, nas próximas
semanas, a assinatura da presidente Dilma Roussef dando o devido direito
aos índios Jenipapo-Kanindé.
Neste mês, foram publicados os
relatórios de identificação e delimitação nas terras dos índios Tremembé
de Queimadas, em Acaraú, e de Barra do Mundaú, em Itapipoca. Das várias
etnias indígenas reconhecidas no Ceará, apenas os Tremembé do Córrego
João Pereira, em Acaraú, tiveram as terras homologadas até hoje. Mas
2012 pode ser o ano da reconquista indígena.
Os trâmites que
haviam de ser já foram. O ultimo deles é o fim do prazo de 90 dias para o
grupo Ypióca recorrer da decisão do Ministério da Justiça sobre a
delimitação das terras indígenas em Aquiraz. Os índios venceram em todas
as instâncias e estão a um passo de selarem a conquista, quando a
presidente Dilma Roussef sancionar a homologação de terras.
A
Portaria nº 184 do Ministério da Justiça no Diário Oficial da União
(DOU), de 24 de fevereiro de 2011, declarou o que esperavam os índios
desde sempre, mais insistentemente a partir de 1980: "de posse
permanente do grupo indígena Jenipapo-Kanindé a Terra Indígena ´Lagoa
Encantada´ com superfície aproximada de 1.731 hectares e perímetro
também aproximado de 20 quilômetros". E mais: "julgando improcedentes as
contestações opostas à identificação e delimitação da terra indígena".
Os
índios, como outras etnias, passam por quatro principais processos até
terem as suas terras garantidas de forma incontestável: a identificação
(com auxílio de perícia antropológica se identifica um povo como
pertencente à etnia), demarcação e delimitação das terras (caso de
Aquiraz), homologação pela Presidência da República e posterior
desintrusão. Esta última etapa significa a retirada de agentes ou grupos
que tentam se apropriar das terras. No caso de Aquiraz, a empresa
Ypióca terá de sair de áreas que estejam dentro do perímetro pertencente
aos Jenipapo-Kanindé. Isso inclui a proibição da retirada, pela
empresa, de água da Lagoa Encantada.
Tem sido com muita
dificuldade o processo de reconhecimento e afirmação das identidades
indígenas. Mas, aos poucos, elas têm vencido os processos até a
legitimação definitiva. É uma fila de quase 20 etnias espalhadas no
Ceará que tem na primeira posição os índios tremembé do Córrego João
Pereira, em Itapipoca. Depois, seguem os Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz.
Em um patamar imediatamente inferior, mas já em processo de
consolidação, estão os casos dos Tremembé de Queimadas (Acaraú) e da
Barra do Mundaú, em Itapipoca. Neste último, o grande imbróglio judicial
envolve a instalação de um grande empreendimento hoteleiro do grupo
Nova Atlântida, que se estenderia em aproximadamente 13 quilômetros de
litoral em Itapipoca.
Direito natural
A
estratégia dos posseiros e grupos empresariais que brigam na Justiça
pelas terras indígenas resume-se basicamente em não reconhecer
determinados povos como índios. Se não forem índios, não têm direito
natural da terra. Mas os estudos antropológicos tem sido tão
fundamentados que as cartas judiciais já respondem em favor dos índios. É
o caso do despacho 678, publicado no Diário Oficial da União, que traz a
fundamentação histórica em que se conceberam aqueles povos indígenas:
"As
primeiras referências aos Tremembé datam do século XVI. Os jesuítas
começaram a estabelecer aldeamentos em território cearense no século
XVII, paralelamente ao processo de concessão de sesmarias na zona
costeira. O projeto colonial português promovia uma política que
categorizava os povos indígenas em dois polos, os aliados e os inimigos,
derivando disso as justificativas para o emprego da força física(...)
Subjugados, os povos indígenas criaram, em 1712, a Confederação
Indígena, a fim de negociar a paz com o colonizador. Porém, no ano
seguinte, diante da negativa dos portugueses em cumprir os acordos, os
´Tapuia´ atacaram Aquiraz, sede econômica da capitania, fato que motivou
o envio de outras expedições militares para a região, as quais
desbarataram a resistência indígena".
FIQUE POR DENTRO
Concentrações indígenas no Estado
A
Coordenação dos Povos Indígenas do Ceará (Copice) tem registradas 11
concentrações de etnias indígenas no Estado: Tapeba (Caucaia), Tremembé
(Acaraú, Itarema e Itapipoca), Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba),
Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), Kanindé (Canindé e Aratuba), Potiguara
(Tamboril, Crateús, Monsenhor Tabosa e Novo Oriente), Tabajara
(Monsenhor Tabosa, Crateús, Tamboril, Poranga e Quiteranópolis),
Kalabaça (Crateús e Poranga), Kariri (Crateús), Anacé (São Gonçalo do
Amarante e Caucaia), Gavião (Monsenhor Tabosa) e Tubiba-Tapuia
(Monsenhor Tabosa). O número pode subir com processos de
auto-reconhecimentos.
REPÓRTER
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