FÁBIO LIMA
Barracas abandonadas devem ser retiradas primeiro
Prevista inicialmente para maio do
ano passado e, em seguida, adiada para o mês de dezembro, a remoção das
barracas da Praia do Futuro tem desfecho indefinido agora.
Oito
meses após parecer prévio da Advocacia Geral da União (AGU) ser
emitido em favor da retirada dos equipamentos, o procurador-chefe da
União no Ceará, José de Arimatéa Neto, ainda não se pronunciou a
respeito do caso. Só depois do posicionamento dele é que qualquer
demolição pode ser efetuada pela Prefeitura de Fortaleza - parte
interessada no ordenamento da orla.
Segundo a advogada
responsável pelo caso na AGU, Isabel Cecília de Oliveira, a decisão de
Arimatéa só sairá após o Tribunal Regional Federal da 5ª Região
(TRF-5), no Recife, deliberar sobre a reformulação (ou manutenção) de
uma ação cautelar deferida em favor dos proprietários das barracas.
A categoria acionou o TRF-5 após O POVO
publicar matéria em agosto de 2011 revelando o teor do parecer de
Isabel Cecília solicitado pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU).
Ela entende que os empreendimentos estão todos em situação irregular e
devem sair da faixa de areia.
De acordo com a advogada, os
empresários ingressaram com ação cautelar numa tentativa de
retardar/impedir a retirada das construções. A princípio, conseguiram
apoio. “Antes do meu chefe (Arimatéa) aprovar (o parecer), eles
ingressaram com a ação pra impedir. Mas a AGU em Recife está trabalhando
para reverter essa situação”, explica ela.
O primeiro foco
de remoção são as barracas abandonadas, em ruínas e transformadas em
habitação por moradores de rua. Neste ponto, tanto poder público quanto
poder privado concordam. Entretanto, nem esse serviço pode ser
executado sem o aval da AGU.
Em seguida, seriam afetadas as
estruturas em funcionamento. De um lado, a Prefeitura fala de ocupação
desordenada; do outro, os barraqueiros destacam desleixo de décadas na
fiscalização. “O caso da Praia do Futuro é o processo mais difícil que
já vi na vida. Porque não é só um (processo); são vários e com muitas
partes envolvidas. Mas acredito que está próximo de um fim”, pondera
Isabel Cecília.
Inquérito na PF
A
tensão no processo é tamanha que a advogada da União diz ter recebido
ameaças de morte de um dos empresários da Praia do Futuro após o
parecer favorável à demolição ser divulgado.
Ela diz ter
recebido um e-mail com reclames incisivos. Por isto, procurou a Polícia
Federal. “Foi feita uma representação e aberto inquérito contra ele.
As pessoas não entendem que, se não fosse eu (a emitir o parecer),
seria qualquer outro colega”, frisa.
Por 11 vezes, O POVO
tentou falar com representantes da Associação dos Barraqueiros da
Praia do Futuro na tarde de ontem, mas não conseguiu contato nem em
números fixos nem nos celulares da presidente, Fátima Queiroz, e do
vice-presidente, Milton Aguiar. A Polícia Federal também foi procurada
em quatro ocasiões, mas não comentou o inquérito até o fechamento da
matéria.
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Na
AGU, a expectativa é de o caso ser solucionado neste ano. Contudo, os
empresários prometem levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF),
instância máxima do Poder Judiciário brasileiro.
Entenda o caso
11 de abril de 2011.
Ministério Público Federal expede recomendação à Secretaria do
Patrimônio da União e Prefeitura pedindo a derrubada das barracas.
Associação dos empresários diz ser favorável apenas à demolição dos
prédios abandonados, em ruínas e transformados em habitação por
moradores de rua. Segundo a presidente Fátima Queiroz, muitos desses
espaços são usados como ponto de venda de drogas e servem de
esconderijo para assaltantes.
11 de maio de 2011.
Dia em que as demolições deviam ter sido iniciadas. Contudo, os
trabalhos sofreram atraso porque a SPU solicitou da Advocacia Geral da
União um posicionamento formal sobre a retirada dos empreendimentos.
Fim de junho.
Advogada da União no Ceará, Isabel Cecília de Oliveira, finaliza
análise do caso Ela argumenta que todas as barracas estão em situação
irregular. Logo, precisam ser retiradas. Documento foi encaminhado ao
procurador-chefe da União no Ceará, José Arimatéa Neto, que precisa
autorizar o início da força-tarefa. Expectativa era de que ele acatasse
o parecer de Isabel e os trabalhos iniciassem até dezembro.
Fevereiro de 2012.
Parecer de Arimatéa não sai enquanto TRF-5 não deliberar sobre a
retirada das barracas. Isabel Cecília revela ao O POVO ter recebido
ameaças de morte de um proprietário e que o caso está sendo investigado
pela Polícia Federal.
Saiba Mais
A mudança
do procurador da SPU pode retardar o desfecho do caso. Ainda não há
data para isso acontecer, mas a expectativa é de que o substituto ponha
fim ao impasse.
O POVO procurou o atual procurador-chefe, José de Arimatéa, mas foi informado de que ele estava de licença.
No contato com a PF, um pedido formal de informações foi enviado por email. Houve promessa de retorno, mas resposta alguma foi enviada.
Multimídia
Hoje,
a TV O POVO transmite programa especial sobre o destino das barracas
da Praia do Futuro. Apresentado pela jornalista Cinthia Medeiros, o
“Movimento Urbano” começa às 21 horas.
Para debater o
assunto, foram convidados o professor do curso de Geografia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Geovah Meireles, e o
superintendente da Secretaria do Patrimônio da União no Ceará (SPU),
Jorge Queiroz.
A TV O POVO pode ser assistida nos canais 48 (UHF), 11 (TV Show) e 23 (NET).
A transmissão também pode ser acompanhada no site do Grupo de Comunicação O POVO: http://www.opovo.com.br/ radiosetv/tvopovo/
Fonte: Jornal o Povo
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