Na entrada da Unilab, os universitários são recebidos com festa
FOTOS: JOSÉ LEOMAR
Cheios de esperança, jovens do Timor-Leste querem se capacitar no Brasil e auxiliar seu país na luta emancipatória
Redenção.
Chegaram ao Ceará mais estudantes do Timor-Leste que ingressam nos
cursos superiores da Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-brasileira (Unilab). A parceria com a Universidade
Nacional de Timor-Lorosae possibilitou a vinda de mais 69 timorenses
para o campus da Unilab em Redenção, na região do Maciço de Baturité. Em
sua maioria jovens, todos trazem a esperança de aprender um ofício e
levar o desenvolvimento para o país, localizado no continente asiático e
que só há 10 anos consolidou processo de independência.
Agora,
juntam-se a jovens brasileiros e de países africanos. A Unilab é uma
instituição de ensino superior do governo brasileiro que objetiva firmar
convênios de cooperação com os países lusófonos. Representa uma das
primeiras grandes experiências brasileiras em intercâmbio cultural e
educacional entre países de língua portuguesa.
São mais de 400
estudantes em Redenção vindo de países africanos como Guiné-Bissau,
Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e de Timor-Leste.
Não é apenas uma grande experiência, mas a realização de um sonho de
pessoas que saíram de uma região pobre do planeta para um dia voltarem
carregando esperança.
Euforia e brilho nos olhos de quem traz uma
cultura diferente para o País que será moradia pelos próximos anos. Foi
com o coração apertado que a estudante timorense Maria em Graça, de 21
anos, deixou os pais e sete irmãos para estudar administração pública na
Unilab. Chegou no último fim de semana com outros 68 timorenses.
Mas,
no desafio do novo encontram o apoio de conterrâneas. Já estavam aqui
Maria, Santina e Brígida. Mulheres que um dia foram perseguidas no
próprio país porque queriam estudar português (o idioma popular é o
tétum). Só com o fim da colonização pela Indonésia que os timorenses
começaram a conquistar a liberdade.
Determinação
"A
educação é a nossa segunda luta. A primeira foi pela independência",
afirma Brígida da Silva, de 50 anos, que por quatro foi prisioneira
política. Está em Redenção desde o ano passado cursando Ciências da
Natureza e Matemática. Quando formada, quer voltar para o Timor e, em
bom português, levar conhecimento e desenvolvimento para o seu
Município. O termo Unilab representa uma união afro-brasileira. A
inclusão de Timor-Leste, que fica no continente asiático, mostra que o
próprio nome não resume a abrangência, notadamente delimitada para
língua portuguesa.
"A gente veio com determinação pela educação",
comenta a timorense Santina Maria Afonso da Silva, de 52 anos. No
coração não preenchido pela educação, está a saudade dos sete filhos.
Tenta encurtar a distância com fotografias, telefonemas e mensagem na
Internet. Não pode conferir de perto a sua primeira netinha, nascida há
mês e meio.
A Unilab foi criada em 2010 pelo então presidente
Luis Inácio Lula da Silva. É uma proposta de intercâmbio e integração
dos países de língua portuguesa. O campus ainda funciona em sede
improvisada no Município de Redenção, até que seja construído o Campus
das Auroras.
Parceria
Mas a parceria com a
Universidade Federal do Ceará (UFC) garante, inclusive, aulas de
laboratório. Atualmente, a Unilab oferece os cursos de Enfermagem,
Administração Pública, Agronomia, Ciências da Natureza e Matemática,
Letras, Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Engenharia de
Energias. Cada estudante timorense recebe auxílio financeiro de U$ 500
para moradia, alimentação e transporte.
"A meta é que, em cinco
anos, tenhamos cinco mil estudantes, dos quais 2.500 serão estrangeiros
nos diversos cursos, e a construção do Campus das Auroras, entre Acarape
e Redenção, significará a instalação de uma verdadeira cidade
universitária", afirma Paulo Speller, reitor da Unilab. O embaixador do
Timor-Leste no Brasil, Domingos de Sousa, também esteve presente fazendo
a acolhida dos jovens timorenses. Seis concursos para admissão de
professores estão em processo na Unilab, dos quais três estão com
inscrições abertas.
A professora doutora Maria do Socorro afirma
que vem aprendendo bastante com os alunos da instituição. "Percebemos
nos alunos o tamanho da determinação. Eles estão aqui cheio de vontade
de estudar, e isso é gratificante para qualquer professor".
Desenvolvimento
Não
tenho dúvida de que todo o sacrifício que eles fizeram para chegar até
aqui é motivado pelo desejo de aprender", afirma a professora. E após
três meses em um curso para aprender português e poder estudar no
Brasil, foi em bom tom que saíram as palavras da jovem timorense Maria
em Graça, recém-chegada ao município de Redenção: "Eu quero levar o
desenvolvimento para o meu país", ressalta.
Mais informações:
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)
Município de Redenção
Telefone: (85) 3332.1414
MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER
Diário do Nordeste
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