FRANCISCA CARLA
A descoberta da doença de Francisca Carla aconteceu em uma das
festas que era realizada pelos patrões e também padrinhos de batismo,
Joaquim Carlos de Vasconcelos e dona Maria Rodrigues. Na festa, um
almoço dominical, estava entre os convidados um profissional da saúde,
apontado como um médico, que acabou por revelar para os patrões que a
jovem estaria com “morféia”. Relatos da época diz que naquele momento os
convidados começaram a rejeitar a comida posta à mesa, e desde então o
clima no casarão não era mais de alegria, mas de preconceito.
Portadora da hanseníase ela foi segregada do meio social numa época em que o estigma criado sobre a lepra causava repulsa aos enfermos. O único modo de tentar controlar a doença era confinando os leprosos. Mas como em Tianguá na década de 50 não existia leprosários, Francisca Carla foi isolada, no meio da mata, onde passou o resto de sua vida.
Seu exílio perdurou não se sabe ao certo, entre cinco a oito anos, sobrevivendo de doações que eram deixadas por pessoas, que muita das vezes transitam pelo caminho uma única vez por semana. A estrada ligava a comunidade ao Centro da cidade de Tianguá.
No livro de registro de óbitos do Município de Tianguá, a reportagem encontrou o atestado de morte da doméstica. Sob o número 2.928, de 23 de abril de 1953, foi registrada oficialmente a morte da jovem Francisca Quirino, nome verdadeiro de Francisca Carla. O documento revela ainda que o atestado de óbito foi testemunhado pelo senhor Joaquim Carlos de Vasconcelos, patrão e dono da fazenda onde a jovem foi encontrada morta. Escrito a bico de pena, está descrito como era a falecida: pele morena, 1,70m, cabelos longos, castanhos escuros e olhos castanhos médios. No dia em que foi encontrada morta, Francisca Carla usava vestido de mangas, abaixo do joelho, com chinelo de tiras entre os dedos.
Portadora da hanseníase ela foi segregada do meio social numa época em que o estigma criado sobre a lepra causava repulsa aos enfermos. O único modo de tentar controlar a doença era confinando os leprosos. Mas como em Tianguá na década de 50 não existia leprosários, Francisca Carla foi isolada, no meio da mata, onde passou o resto de sua vida.
Seu exílio perdurou não se sabe ao certo, entre cinco a oito anos, sobrevivendo de doações que eram deixadas por pessoas, que muita das vezes transitam pelo caminho uma única vez por semana. A estrada ligava a comunidade ao Centro da cidade de Tianguá.
No livro de registro de óbitos do Município de Tianguá, a reportagem encontrou o atestado de morte da doméstica. Sob o número 2.928, de 23 de abril de 1953, foi registrada oficialmente a morte da jovem Francisca Quirino, nome verdadeiro de Francisca Carla. O documento revela ainda que o atestado de óbito foi testemunhado pelo senhor Joaquim Carlos de Vasconcelos, patrão e dono da fazenda onde a jovem foi encontrada morta. Escrito a bico de pena, está descrito como era a falecida: pele morena, 1,70m, cabelos longos, castanhos escuros e olhos castanhos médios. No dia em que foi encontrada morta, Francisca Carla usava vestido de mangas, abaixo do joelho, com chinelo de tiras entre os dedos.
O agricultor Manoel Carneiro Veras, 71 anos, viu na sua
mocidade o sofrimento da jovem Francisca Carla. Ele relata que num dia
de domingo, como era costume na cidade, o conterrâneo Joaquim Carlos
recebia muitos convidados e como retribuição, mandava preparar um grande
banquete. “Todos comiam e bebiam à vontade. Muitos paravam aqui
voltando da feira semanal de Tianguá. Quando foi um certo dia sobrou
muita comida. Achei estranho. Depois disso, como eu era muito amigo da
família, seu Joaquim Carlos me falou que Francisca Carla estava doente e
que não podia receber visita”, relembra Manoel Veras.
Ele conta que Joaquim Carlos, com ajuda de moradores, construiu uma casinha de taipa para Francisca Carla morar. Depois, eles ergueram uma segunda casa e queimaram a primeira. Fizeram uma terceira casa, esta no caminho para Tianguá. “Foi a partir daí que eu voltei a vê-la. Todos os domingos de madrugada, a gente saia para Tianguá e na ida deixava uma cabaça com água e na volta deixava comida”, conta o agricultor Manoel.
Manoel Veras disse que eram poucas as pessoas que chegavam perto da casa. “Um leão é um bicho feroz, mas a gente tem coragem de olhar para ele. Francisca Carla, o povo tinha medo”. Até que um certo dia, quando ia para cidade, notou que a comida que havia sido colocada lá, lá estava. “Foi aí que seu Joaquim Carlos entrou na casa e encontrou ela morta, o corpo estava caído em cima de um feixe de lenha”, disse, acrescentando que o sepultamento dela foi preparado pela sua mãe, Antônia Xavier. Depois de enterrada, a casa onde foi a última morada foi derrubada e não queimada como as outras.
Robson Fonteneles de Paulo, aluno da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), descreve em sua monografia — “Francisca Carla, o imaginário popular sobre sua santificação” — o que tanto o impressionou: “é que ela (Francisca Carla), antes de ser confinada, esteve numa situação sem ter para onde ir nem aonde ficar. Como se fosse um ser sobrenatural. Podendo tornar-se invisível, diante das exigências preocupantes que desses momentos angustiantes já lhe acompanhava”, descreve Robson.
Sepultamento
Se consideramos que Joaquim Carlos só visitava o local no domingo, provavelmente Francisca Carla tenha falecido mesmo no dia 23 de abril, pois esse dia caiu naquele ano de 1953, numa quinta-feira. “Nesse período de três dias, algumas pessoas passantes e aqueles que sempre deixavam alimentação no pé da faveira notaram que a comida continuava no lugar sem ser tocada. A porta do casebre continuava fechada, demonstrando que algo mais estranho poderia ter ocorrido. Alguém quis ver de perto o que teria acontecido. Era o senhor Francisco Alexandre, a primeira pessoa a tomar conhecimento de que Francisca Carla estava morta”, descreve Luiz Gonzaga Bezerra, no seu livro.
Confirmada a veracidade do fato, logo em seguida as pessoas da comunidade do Sítio Lagoa do Padre, tendo à frente a Antônia Xavier, Francisco Xavier e outros presentes procuram providenciar o sepultamento da conterrânea. Antônia Xavier determinou que fosse preparado o cadáver já em putrefação. “Ela vai ser enterrada como ser humano, deixem que eu cuido, vou dar um banho e visto a mortalha dela pronta para o enterro”, disse ela.
Ele conta que Joaquim Carlos, com ajuda de moradores, construiu uma casinha de taipa para Francisca Carla morar. Depois, eles ergueram uma segunda casa e queimaram a primeira. Fizeram uma terceira casa, esta no caminho para Tianguá. “Foi a partir daí que eu voltei a vê-la. Todos os domingos de madrugada, a gente saia para Tianguá e na ida deixava uma cabaça com água e na volta deixava comida”, conta o agricultor Manoel.
Manoel Veras disse que eram poucas as pessoas que chegavam perto da casa. “Um leão é um bicho feroz, mas a gente tem coragem de olhar para ele. Francisca Carla, o povo tinha medo”. Até que um certo dia, quando ia para cidade, notou que a comida que havia sido colocada lá, lá estava. “Foi aí que seu Joaquim Carlos entrou na casa e encontrou ela morta, o corpo estava caído em cima de um feixe de lenha”, disse, acrescentando que o sepultamento dela foi preparado pela sua mãe, Antônia Xavier. Depois de enterrada, a casa onde foi a última morada foi derrubada e não queimada como as outras.
Robson Fonteneles de Paulo, aluno da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), descreve em sua monografia — “Francisca Carla, o imaginário popular sobre sua santificação” — o que tanto o impressionou: “é que ela (Francisca Carla), antes de ser confinada, esteve numa situação sem ter para onde ir nem aonde ficar. Como se fosse um ser sobrenatural. Podendo tornar-se invisível, diante das exigências preocupantes que desses momentos angustiantes já lhe acompanhava”, descreve Robson.
Sepultamento
Se consideramos que Joaquim Carlos só visitava o local no domingo, provavelmente Francisca Carla tenha falecido mesmo no dia 23 de abril, pois esse dia caiu naquele ano de 1953, numa quinta-feira. “Nesse período de três dias, algumas pessoas passantes e aqueles que sempre deixavam alimentação no pé da faveira notaram que a comida continuava no lugar sem ser tocada. A porta do casebre continuava fechada, demonstrando que algo mais estranho poderia ter ocorrido. Alguém quis ver de perto o que teria acontecido. Era o senhor Francisco Alexandre, a primeira pessoa a tomar conhecimento de que Francisca Carla estava morta”, descreve Luiz Gonzaga Bezerra, no seu livro.
Confirmada a veracidade do fato, logo em seguida as pessoas da comunidade do Sítio Lagoa do Padre, tendo à frente a Antônia Xavier, Francisco Xavier e outros presentes procuram providenciar o sepultamento da conterrânea. Antônia Xavier determinou que fosse preparado o cadáver já em putrefação. “Ela vai ser enterrada como ser humano, deixem que eu cuido, vou dar um banho e visto a mortalha dela pronta para o enterro”, disse ela.
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