sexta-feira, 30 de março de 2012

Tianguenses Ilustres



FRANCISCA CARLA

 
A descoberta da doença de Francisca Carla aconteceu em uma das festas que era realizada pelos patrões e também padrinhos de batismo, Joaquim Carlos de Vasconcelos e dona Maria Rodrigues. Na festa, um almoço dominical, estava entre os convidados um profissional da saúde, apontado como um médico, que acabou por revelar para os patrões que a jovem estaria com “morféia”. Relatos da época diz que naquele momento os convidados começaram a rejeitar a comida posta à mesa, e desde então o clima no casarão não era mais de alegria, mas de preconceito.

Portadora da hanseníase ela foi segregada do meio social numa época em que o estigma criado sobre a lepra causava repulsa aos enfermos. O único modo de tentar controlar a doença era confinando os leprosos. Mas como em Tianguá na década de 50 não existia leprosários, Francisca Carla foi isolada, no meio da mata, onde passou o resto de sua vida.

Seu exílio perdurou não se sabe ao certo, entre cinco a oito anos, sobrevivendo de doações que eram deixadas por pessoas, que muita das vezes transitam pelo caminho uma única vez por semana. A estrada ligava a comunidade ao Centro da cidade de Tianguá.

No livro de registro de óbitos do Município de Tianguá, a reportagem encontrou o atestado de morte da doméstica. Sob o número 2.928, de 23 de abril de 1953, foi registrada oficialmente a morte da jovem Francisca Quirino, nome verdadeiro de Francisca Carla. O documento revela ainda que o atestado de óbito foi testemunhado pelo senhor Joaquim Carlos de Vasconcelos, patrão e dono da fazenda onde a jovem foi encontrada morta. Escrito a bico de pena, está descrito como era a falecida: pele morena, 1,70m, cabelos longos, castanhos escuros e olhos castanhos médios. No dia em que foi encontrada morta, Francisca Carla usava vestido de mangas, abaixo do joelho, com chinelo de tiras entre os dedos.
 
O agricultor Manoel Carneiro Veras, 71 anos, viu na sua mocidade o sofrimento da jovem Francisca Carla. Ele relata que num dia de domingo, como era costume na cidade, o conterrâneo Joaquim Carlos recebia muitos convidados e como retribuição, mandava preparar um grande banquete. “Todos comiam e bebiam à vontade. Muitos paravam aqui voltando da feira semanal de Tianguá. Quando foi um certo dia sobrou muita comida. Achei estranho. Depois disso, como eu era muito amigo da família, seu Joaquim Carlos me falou que Francisca Carla estava doente e que não podia receber visita”, relembra Manoel Veras.

Ele conta que Joaquim Carlos, com ajuda de moradores, construiu uma casinha de taipa para Francisca Carla morar. Depois, eles ergueram uma segunda casa e queimaram a primeira. Fizeram uma terceira casa, esta no caminho para Tianguá. “Foi a partir daí que eu voltei a vê-la. Todos os domingos de madrugada, a gente saia para Tianguá e na ida deixava uma cabaça com água e na volta deixava comida”, conta o agricultor Manoel.

Manoel Veras disse que eram poucas as pessoas que chegavam perto da casa. “Um leão é um bicho feroz, mas a gente tem coragem de olhar para ele. Francisca Carla, o povo tinha medo”. Até que um certo dia, quando ia para cidade, notou que a comida que havia sido colocada lá, lá estava. “Foi aí que seu Joaquim Carlos entrou na casa e encontrou ela morta, o corpo estava caído em cima de um feixe de lenha”, disse, acrescentando que o sepultamento dela foi preparado pela sua mãe, Antônia Xavier. Depois de enterrada, a casa onde foi a última morada foi derrubada e não queimada como as outras.

Robson Fonteneles de Paulo, aluno da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), descreve em sua monografia — “Francisca Carla, o imaginário popular sobre sua santificação” — o que tanto o impressionou: “é que ela (Francisca Carla), antes de ser confinada, esteve numa situação sem ter para onde ir nem aonde ficar. Como se fosse um ser sobrenatural. Podendo tornar-se invisível, diante das exigências preocupantes que desses momentos angustiantes já lhe acompanhava”, descreve Robson.

Sepultamento

Se consideramos que Joaquim Carlos só visitava o local no domingo, provavelmente Francisca Carla tenha falecido mesmo no dia 23 de abril, pois esse dia caiu naquele ano de 1953, numa quinta-feira. “Nesse período de três dias, algumas pessoas passantes e aqueles que sempre deixavam alimentação no pé da faveira notaram que a comida continuava no lugar sem ser tocada. A porta do casebre continuava fechada, demonstrando que algo mais estranho poderia ter ocorrido. Alguém quis ver de perto o que teria acontecido. Era o senhor Francisco Alexandre, a primeira pessoa a tomar conhecimento de que Francisca Carla estava morta”, descreve Luiz Gonzaga Bezerra, no seu livro.

Confirmada a veracidade do fato, logo em seguida as pessoas da comunidade do Sítio Lagoa do Padre, tendo à frente a Antônia Xavier, Francisco Xavier e outros presentes procuram providenciar o sepultamento da conterrânea. Antônia Xavier determinou que fosse preparado o cadáver já em putrefação. “Ela vai ser enterrada como ser humano, deixem que eu cuido, vou dar um banho e visto a mortalha dela pronta para o enterro”, disse ela. 

ALMIRANTE RUBIM


Raymundo Frederico Kiappe da Costa Rubim – Almirante, nasceu no Sítio Paraíba em 27 de junho de 1856 – Tianguá/Ceará; e faleceu no Rio em 13 junho de 1926, filho legítimo do casal: Capitão Joaquim Frederico Kiappe da Costa Rubim (Porto/Portugal- nasceu 06.10. 1831 e faleceu 1866 Corrientes/Argentina) e Joana Ferreira Lima Rubim (Vila de Tianguá, Palma, hoje Coreaú/Ce) termo da Viçosa; O Cap. Joaquim é autor de uma Gramática portuguesa em verso (1862); faleceu em 1866 na Guerra do Paraguai, local da morte: Corrientes, Argentina. Dona Joana Ferreira Lima Rubim faleceu em Fortaleza. 
    Estudou e fez os preparatórios no Rio de Janeiro tendo se matriculado na Escola de Marinha a 25 de Fevereiro de 1871, quando teve praça de aspirante a guarda marinha. Tendo concluído o curso daquela Escola foi a 27 de novembro de 1873,  promovido a Guarda Marinha. Promovido a 2º Termo a 27 de Dezembro de 1875, a Promovido a 2º Tenente a 27 de Dezembro de 1875, a 1º Tenente a 9 de Dezembro de 1879, por merecimento. Nesse posto embarcou com oficial em vários navios, servindo de imediato em outros, comandou o hiate “Guaycuhy” conduzindo-o do porto de Pernambuco ao de      Pará a que se destinava e o patacho “Pirapama” em que naufragou na Urca do Minhoto às 19h00 horas de 16 de junho de 1887. Respondeu por esse fato a conselho de guerra, que o absolveu unanimente. 
    Exerceu o cargo de Capitão do Porto do Piauí e finalmente comandou o Cruzador “Centauro”, quando ao chegar de viagem, na Capital da Bahia, teve notícia de sua promoção por merecimento ao posto de Capitão-Tenente, por Decreto de 11 de junho de 1891. 
    Nesse posto sempre desempenhou várias comissões de comando como as da Torpedeira de alto mar “ Iguatemy”, e Transporte “Madeira” onde desempenhou longa comissão de inspeção de faróis; na qualidade de Ajudante da repartição de faróis para a qual foi nomeado por Aviso de 27 de Agosto de 1892. 
    Como Capitão-Tenente desempenhou ainda outras comissões, ora inspecionando faróis e executando trabalho neles, ora dirigindo montagens, como as do Rio Doce, Estado do Espírito Santo, Ponta do Mel, Mação e Mossoró no Rio Grande do Norte, Chapéu Virado no Pará etc. 
    Foi promovido a Capitão de Fragata, por merecimento, a 2 de Janeiro de 1901, achando-se nessa ocasião comandando o vapor “ Comandante Freitas”, da Repartição  da Carta Marítima, que se achava então ancorado em Canavieiras, Estado da Bahia, para onde fora transportar o material do novo farol de Belmonte e executar a sua montagem, serviços esses feitos debaixo da sua direção, sendo dito farol inaugurado a 12 de Outubro do mesmo ano. 
    Tendo falecido o Diretor da repartição de faróis foi nomeado para substituí-lo a 24 de Abril de 1901, cargo esse que exerceu até 5 de Março de 1903, quando foi exonerado. Montou ainda o farol de Itajahy, em Santa Catarina. 
    Exerceu mais o cargo de Capitão do Porto e Comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros de Pernambuco cumulativamente, e depois o de Capitão do Porto do Amazonas onde se achava quando foi promovido por merecimento a 16 de Setembro de 1907. 
    A 17 de Janeiro de 1912 foi nomeado Comandante da Divisão da Defesa Móvel do Porto do Rio de Janeiro. 
    Tendo o Governo de preencher a vaga aberta na marinha nacional com o falecimento do almirante Pereira Leite, foi Kiappe Rubim promovido a Contra-almirante. 
    Possui a medalha de ouro de mérito militar e de Aviz concedida pelo Governo Provisório. 
    Em colaboração com o Capitão-Tenente Eduardo A. Veríssimo de Mattos publicou: 
  - Código de sinais comum a todas as barras dos portos organizado de conformidade com o disposto do Aviso do Ministério da Marinha sob nº 1985 de 14 de Dezembro de 1894, e com as alterações indicadas pelo Conselho Naval em consulta nº 7780, de 20 de Agosto de 1897. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1898, 43 pp. Índice inclusive. 
  São também de sua pena os trabalhos: 
  - Instruções concernentes ao pessoal e serviço geral dos faróis, Rio de Janeiro, 1900, in-8º, mandadas adaptar por Dec. Nº 887 de 19 de Janeiro de 1900. 
  - Guia Pratica do faroleiro, Rio de Janeiro, 1900, in-8º, mandado adaptar por Aviso Nº 1144 de 13 de Julho de 1889. 
  - Instruções concernentes ao pessoal e serviço geral dos Faróis,  Rio de Janeiro. Oficina Typo-Litográfica da Superintendência da Navegação, 1908. 


COMANDANTE DA 
ESCOLA DE MARINHA MERCANTE DO PARÁ (EMMPA) 
01.10.1893 A 16.01.93 
CT RAYMUNDO FREDERICO KIUPPE DA COSTA RUBIM 08.06.1894 a 30.09.94

 

CHAGA DA ONÇA 

Um dos nossos mais ilustres conterrâneos, com certeza Chaga da Onça está na mente de todos os tianguaenses. Conhecido por seu hábito de faltar com a verdade em suas histórias, ficou famoso como sendo o maior mentiroso da cidade de Tianguá. Mas um mentiroso apenas com sinônimo de contador de histórias, pois este fazia a mente das pessoas voar com seus contos extraordinários e únicos. Segundo relatos de terceiros, a sua primeira grande mentira e que definiu seu apelido, teria sido em relação a uma onça que ele tinha encontrado em uma de suas caças no meio da mata. Segundo reza a lenda, ele teria ficado de frente com a tal onça e que a mesma teria arrancado de suas mãos, com uma só patada, sua espingarda. Chaga da Onça então, num momento de valentia e heroísmo, enfiou seu braço direito por garganta da onça a dentro, pegou em seu rabo pelo lado interno e a puxou pelo avesso, matando assim a temida onça. Com certeza uma história dessas traria fama a qualquer cidadão naquela época. Por sua mente criativa, Chaga da Onça se tornou uma lenda em Tianguá!

 

Tiangua Esperto





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