domingo, 22 de abril de 2012

Manejo propicia conciliação das florestas e a agricultura

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Jeová de Oliveira e sua neta na região da Vila do Alecrim, em Potengi, uma experiência bem sucedida de tratamento adequado de cultivo agrícola e preservação de biomas
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Juvenal Oliveira comercializa seus produtos na Feira de Produtos Agroecológicos no Centro do Crato, muitos desses colhidos em sua horta, com a garantia de fonte de subsistência, sem degradar ecossistemas sensíveis da região Sul do Estado
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Juvenal Januário Matos e Dursulina Gomes de Matos apresentam os tomates colhidos na horta da agrofloresta mantida pelo casal. Eles representaram uma das quatro famílias acompanhadas pela pesquisadora
Pesquisa realizada no Cariri demonstra como é possível manter uma produção agrícola e a preservação florestal

Fortaleza Os antigos povos Kariri já ensinavam que era compatível extrair alimentos e fontes de energia sem precisar queimar e degradar o meio ambiente. Esses ensinamentos foram esquecidos ao longo do tempo, por conta da colonização, em que o Europeu introduziu a técnica de queimadas como forma mais rápida para o cultivo da terra.

Essa mudança de manejo teve consequências graves ou até devastadoras em diferentes biomas. No caso do semiárido nordestino, agravou o processo de desertificação e tornou o solo menos fértil para a agricultura. Eis que agora a pesquisadora Milene Madeiro resgata os saberes atávicos das etnias do Sul do Estado e recupera conhecimentos de que se pode conciliar a preservação das florestas e os processos de produção do campo.

Esse foi o objeto de sua dissertação no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema), mantido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), concluído em março passado.

“Sob a emergência de pensar os desafios e problemas relacionados à sustentabilidade socioambiental no semiárido cearense, e tendo como foco principal o papel dos processos comunicativos nesse contexto ambiental, a dissertação investiga o caso da disseminação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) de produção entre famílias camponesas na região do Cariri, no Sul do Ceará. O ponto de partida do estudo são os registros sobre o Povo Kariri, cuja cultura é marcada por uma espiritualidade entranhada na relação com a natureza, repassada por processos de comunicação oral”, afirma Milena Madeiro na sua pesquisa, que teve a orientação do professor José Levi Furtado Sampaio.

Lições

No decorrer de dois anos de pesquisa, ele construiu pontes entre a complexa trama teórica acadêmica e o chão da existência camponesa. Para tanto, uniu a capacidade da leitura com a da observadora cuidadosa.

Milene afirma que os resultados foram os mais satisfatórios na forma como se pôde acompanhar quatro famílias e observar que podiam desenvolver práticas agrícolas, não apenas mantendo a floresta como contribuindo no equilíbrio.

“Na tentativa de fazer uma leitura interdisciplinar sobre o contexto desse estudo, é que procurei compreender como se dão as conexões entre os processos comunicativos e a trama cultural, política, social e ambiental que no Cariri levou à existência dos camponeses agroflorestais como ação contra-hegemônica”, afirma.

Contudo, destaca que algumas nuanças foram contempladas, outras dezenas ficaram de fora. Do ponto de vista da comunicação, ressalta que esse foi o aspecto mais relevante de sua pesquisa, porque esse acontecia como fundamental para o compartilhamento dos saberes.

“O camponês nunca se acha um protagonista na mídia, quando não se trata de seca e miséria. Nesse caso, ele é ator de grande importância na produção e preservação da floresta”, concluiu.

Mais informações:

Milene Madeiro

Mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Prodema/UFC

milene.madeiro@gmail.com

Pesquisa acompanhou quatro famílias

A pesquisa de campo aconteceu em diversas fases ao longo de 2011. Nesse período, Milene Madeiro realizou cinco viagens ao Cariri, nas quais visitou áreas onde se praticavam cultivos agroflorestais.

A intenção dessas visitas, além de realizar entrevistas e observar a realidade, era conviver alguns dias com as famílias para daí compreender melhor seu universo cultural e simbólico, suas motivações para o trabalho agroflorestal, seus limites e potencialidades. Em razão dessa convivência é que foram possíveis as percepções do estudo, porque foi a partir da escuta das histórias de vida dessas famílias, que construiu uma narrativa sobre a experiência dos camponeses agroflorestais no Cariri.

Para o orientador, professor José Levi, a dissertação oferece um "enfoque novo no que tange aos meios de comunicação, porque a pesquisa mostra a experiência de famílias camponesas e as interações comunicativas com as experiências, legados deixados pelos Kariri, ou seja, os processos culturais ligados às relações com natureza, alimentação, relações sociais e como essas formas de organizações sociais pré-existentes deixaram rastros-comunicativos que hoje são usados. O próprio legado do nome já é uma marca simbólica da força comunicativa", observa.

Mesmo não tendo ficado meses ininterruptos vivenciando diretamente a realidade pesquisada, considera ter realizado um trabalho de observação participante, sobretudo, porque ela, assim como os camponeses pesquisados, têm vínculos afetivos com a região e a vida no campo.

"Eu sou do Cariri (de Brejo Santo) e grande parte da minha vivência na infância e adolescência está ligada ao campo. De forma que estudar esse universo é também uma busca pessoal pelo entendimento das relações que se dão naquele espaço entre a sociedade e a natureza", destacou a mestra.

As famílias camponesas pesquisadas foram compostas por Juvenal Januário, no Crato; José Raimundo de Matos, em Nova Olinda; Jeová de Oliveira Carvalho, em Potengi; e por José Cazuza da Silva, em Santana do Cariri. As atividades ocorreram em áreas onde antes sofreram processos de queimadas, num período anterior há 15 anos. Algumas mudanças ocorreram por inserções de organismos como a Associação Cristã de Base (ACB).

Marcus Peixoto
Repórter 
 
Diário do Nordeste

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